Capítulo 4 – Clara
Chego em casa com os olhos vermelhos, vou direto para o quarto, porque não quero que minha mãe perceba nada. Tomo um banho gelado, escondo meu vestido e vou dormir.
No dia seguinte, vou à igreja com ela. Novamente é dito pelo pastor que aquele que quer entregar a vida a Deus que vá até a frente do Altar e faça isso. Minha mãe diz que é bom eu ir.
Como sempre, faço a vontade dela, assim não fica me perturbando quando quero sair.
Fechei meus olhos e fico pensando em como iria achar uma maneira de sair com o garoto popular da escola.
- Ah, tenho uma ideia. Vou combinar com a Ana para ir à casa dela e lá eu saio com ele. Faço de conta que vou fazer um trabalho escolar. Eu sou muito esperta, engano quem eu quiser.
A oração acaba e eu nem percebo. Quando abro os olhos, as pessoas já estão se sentando. Mas o meu plano já está feito em minha mente.
O culto acaba. Ah, Graças a Deus, eu não aguento esse homem falando o tempo todo. Eu não entendo nada do que ele fala, e tem gente ainda que chora aqui. Pra que eu vou chorar, sou feliz como sou, não preciso de Deus para ser feliz, eu sou mais eu.
-*-
15 de Outubro de 1988, 23h46
Começo a sentir muitas dores em minha cabeça, acho que o calor é tanto que estou fritando o meu cérebro. Vejo vultos passarem por todo lado, não há lugar de paz, apenas de tormento.
Eu estou com muito, muito medo.
Eles passam por mim e zombam dizendo que eu nunca dei ouvidos à “Palavra do Homem de Branco”. O meu primeiro cigarro de maconha foram eles que me ofereceram e eu aceitei.
Eu sempre achei que foi o André que me deu, jamais imaginaria que era um enviado do inferno que estava usando o André para tirar a minha vida.
Vermes começam a subir em mim, quanto mais os tiro, mais eles vêm.
Um dos monstros horrorosos me jogam no chão e me mandam ajoelhar diante do trono do deus dele.
Realmente eu estou no inferno, e aqueles que me acompanham são demônios.
Não sei como sair daqui, não sei como cheguei aqui, sei que não quero mais ficar, estou com tanto medo, tanto medo…
O desespero começa a tomar conta de meu corpo. Ouço, vejo, sinto tudo como se estivesse viva. Tudo é muito nítido, muito real. Isso não é sonho… É real!
As dores, o cheiro insuportável, o fogo… O desespero… O desespero…
-*-
26 de fevereiro de 1988, 10h15 ( em casa)
- Mãe, não estou conseguindo entender essa matéria, minha amiga Ana vai me ensinar, posso ir à casa dela?
- Claro, querida, quer que eu te leve?
- Não mãe, não precisa, é aqui perto, vou lá e quando acabar volto direto para casa.
Como minha mãe é tola, coitada, acredita em tudo. É tão fácil enganá-la! O que eu não entendo é que sempre faz a mesma pergunta.
Chego à casa da Ana e logo me encontro com o garoto popular, o André. Fico com ele nessa tarde.
É a minha primeira vez. Está sendo maravilhoso! A gente fuma um baseado antes, um cigarrinho de maconha, e depois ficamos juntos.
Eu não quero nada sério com ele e nem ele comigo, a gente apenas está curtindo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário