Capítulo 2 – Clara
15 de Outubro de 1988, 23h45
Tudo escuro… Ouço uma voz bem longe gritando:
- O carro está pegando fogo, tem alguém dentro dele?
- Não, o rapaz saiu pela janela, está caído no canteiro.
- Vejo alguém ainda dentro carro! Alguém a ajude, socorra a moça, socorra a moça, ela está sangrando muito!!!
Ouço barulho de sirenes cada vez mais alto. Não consigo me mover, nada em meu corpo se move, não sei o que acontece comigo. Será que estão falando de mim? Será que eu estou sangrando?
Começo a sentir um cheiro forte, parece enxofre, sinto minhas narinas arderem. O que está acontecendo?
Alguém chega perto de mim, não sei quem é, não consigo virar meu rosto, estou imóvel, parece um paramédico… Ah sim, é da ambulância que ouvi as sirenes.
- Ela não está morta, tem batimentos, mas se não a removermos logo morrerá, temos apenas alguns minutos.
- O quê? Estão falando de mim? Vamos, me tirem logo daqui, não quero morrer!!! Meu Deus, me ajude, sempre estive em Sua casa, preciso do Senhor agora!!!
De repente sou pega pelo braço, duas coisas estranhas e com mau cheiro me pegam pelo braço e me põem de pé… Não são os paramédicos!
O meu corpo continua lá.
Sou levada para um lugar escuro, muito escuro, um lugar muito quente, meu corpo ferve, o cheiro é insuportável, o enxofre parece entrar em meu cérebro.
-*-
23 de Fevereiro de 1988, 17h32
No domingo, passo a tarde dançando, já fui à igreja pela manhã e fiz a minha obrigação. À noite sou convidada por alguns amigos para uma festa. Eu queria muito ir.
- Mãe, hoje à noite tem o aniversário da minha amiga da escola, a mãe dela vai fazer um bolo só para as amigas dela. Eu posso ir?
- Sim, Clarinha, quer que eu te leve?
- Não, mãe, é aqui perto, dá para ir sozinha.
É muito fácil enganar a minha mãe, ela acredita em tudo o que lhe falo. Eu faço o que quero, e ela nem percebe. Faço de conta que sou santinha, que não apronto nada, e ela sempre me deixa ir à “casa de minhas amigas”.
Coloco uma calça jeans e camiseta azul. Sapatinho rosa. Faço um rabo de cavalo e passo brilho nos lábios.
Em uma bolsa, coloco a minha roupa para a noite e meus sapatos de verniz.
Eu não menti, realmente fui à casa da minha amiga, mas para nos arrumarmos e sairmos juntas.
Já em sua casa, coloco meu mini vestido vermelho com os sapatos pretos de verniz. Solto o meu cabelo preto e coloco um aplique, deixando-o cair sobre minhas costas. Uso a maquiagem da minha amiga. Rosa pink, simplesmente lindo. Vamos a balada.
Nessa noite eu encontro um garoto que é o popular da escola: todo mundo quer ficar com ele. Eu não sou diferente. Toda menina que ficasse com ele seria popular também.
Não posso perder essa oportunidade, então logo me insinuo para ele me tirar para dançar. Chego bem pertinho dele e deixo cair minhas pulseiras em seus pés…
Continua no próximo domingo
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